quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

A Arte de Viver

O homem nasce para levar a efeito a vida, mas tudo depende dele, que pode deixar que ela escape. O homem pode seguir em frente respirando, comendo, envelhecendo; pode prosseguir rumo ao túmulo – mas isso não é vida, isso é morte gradual. Do berço ao túmulo... Uma morte gradual de em média setenta anos. E pelo fato de milhões de pessoas em torno de você estarem morrendo nessa morte gradual e lenta, você também começa a imitá-los. As crianças aprendem tudo de quantos as rodeiam, e estamos cercados de mortos. Assim, primeiro é preciso que compreendamos o que é vida. Ela não deve ser tão só envelhecer, deve ser crescer. E essas são duas coisas diferentes. Envelhecer, qualquer animal é capaz disso. Crescer é prerrogativa dos seres humanos. Só alguns reivindicam esse direito. Crescer significa adentrar cada vez mais o princípio da vida; significa distanciar-se da morte, não seguir rumo a ela. Mais fundo se mergulha na vida, mais se compreende a imortalidade em si mesmo. Nesses casos, você se afasta da morte; chega um momento em que você pode perceber que a morte não é se não mudar de roupa, de casa, de formas - nada morre, nada pode morrer.

A morte é a maior ilusão que existe. Para crescer, basta que se observe uma árvore. À medida que esta se desenvolve, suas raízes se estendem mais fundo. Há um equilíbrio – quanto mais alta a árvore, mais fundas as raízes. Você não pode Ter uma árvore de 50 metros com raízes curtas; estas não suportariam uma árvore tão grande.

Na vida, crescer significa mergulhar fundo em você mesmo – que é onde estão as suas raízes.

Infelizmente, porém, sua inocência é condenada como sendo ignorância. Esta e a inocência apresentam uma semelhança, mas não são a mesma coisa. A ignorância também é um estado que envolve não conhecer, assim com a inocência – mas aqui também há uma grande diferença, a que a humanidade não deu a devida atenção até agora. A inocência não é “culta”, contudo, ela tampouco é desejosa de sê-lo. Ela está satisfeita e feliz por inteiro.

Uma criancinha não tem ambições, não tem desejos. Acha-se por demais absorvida no momento – um pássaro voando prende-lhe a atenção; basta uma borboleta de cores vistosas para que a criança fique encantada; o arco-íris no céu dá-lhe a impressão de que não há sobre a Terra algo que seja mais pleno de sentido e valioso. E a noite cheia de estrelas, estrelas alem de estralas... A inocência é rica, plena, pura.

A ignorância é pobre, é mendiga – quer isso, quer aquilo, quer ser “culta”, quer ser respeitada, abastada, poderosa. A ignorância trilha a senda do desejo. A inocência é o estado da ausência do desejo; porém, pelo fato de ambas não terem conhecimento, permanecemos confusos acerca de sua natureza. Temos para nós que ambas são a mesma coisa.

O primeiro passo na arte de viver será entender a distinção entre ignorância e inocência. Esta tem de ser apoiada, protegida – porque a criança traz com ela o maior tesouro, o tesouro que só os sábios só encontram depois de esforços imensos. Os sábios dizem que se tornam crianças de novo, que renascem. Na índia, o verdadeiro Brahman, o verdadeiro conhecedor, chamou-se a si mesmo dwij, duas vezes nascido. Por que duas vezes nascido? O que houve com o primeiro nascimento? Qual é a necessidade do segundo nascimento? E o que ele ganhará no segundo nascimento?

No segundo nascimento ele ganhará, ele ganhará o que estava disponível no primeiro nascimento, mas a sociedade, os pais, as pessoas a volta dele aniquilaram o que estava disponível, destruíram-no. Cada criança está sendo cheia de conhecimento. De alguma forma, sua simplicidade tem de ser eliminada, porque ela não vai ajudada no mundo da competição. Sua simplicidade dará ao mundo a impressão de que quem a detém é uma pessoa simplória; sua inocência será explorada de todos os modos possíveis. Com medo da sociedade, com medo do mundo que nós mesmos criamos, tentamos fazer de cada criança alguém inteligente, perspicaz, culto – fazer que se enquadre na categoria dos poderosos, não na categoria dos oprimidos e desprovidos de força.

E, uma vez que a criança começa a se desenvolver na direção errada, ela prossegue seguindo esse caminho – toda a sua vida transcorre nessa direção.

Toda vez que você percebe que deixou de aproveitar a vida, o primeiro princípio a ser recuperado é a inocência. Deixe de lado o conhecimento, esqueça as suas escrituras, esqueça a sua religião, a sua filosofia. Procure renascer, resgate a inocência – e ela estará em suas mãos. Purifique a mente de tudo que você sabe, de tudo o que foi tomado de empréstimo. De tudo o quer advém da tradição, das convenções. Tudo que lhe foi dado pelos outros – pais, mestres e universidades – simplesmente seja livre.

OSHO

Um comentário:

Anônimo disse...

Liiiinnndo o texto, doutora!
Adoro os seus posts, admiro muito a psicologia e tudo o que esta relacionado ao auto-conhecimento. Meus parabéns! Muito bom esse texto. Estou sempre conectado a esse excelente blog. Eu sempre fui uma pessoa inocente na minha infancia, mas o mundo "dos espertos" me deixou com medo e eu acabei criando uma pessoa que nao sou eu. HJ tento me libertar disso tudo. Obrigado, doutora!
Marcelo